Poema para L&R

Doravante e à guisa de explicação (três leitores já me questionaram), todos os meus poemas, novos ou republicados, levarão este subtítulo: "poema para L&R". Assim mesmo, duas letras casadas com o ampersand. O principal motivo é que me sinto incapaz de explicá-los, pois percebi que quando os escrevo estou fora de mim, ou alienado ou insano ou bêbado - embriagado de poesia. Mas embriagado como se fosse pelo álcool, estado pelo qual creio ter ficado completamente tomado apenas duas vezes e não me recordo de nada nada enquanto estive assim dopado. Exatamente com relação à poesia, que só me dou conta de ter feito quando recupero a lucidez. O mesmo que aconteceu quando um amigo poeta russo me pediu para traduzir para o português 50 dos seus poemas e eu, ao sair fora de mim (só assim seria possível aceitar tal empreitada sem entender o idioma) traduzi. Quando vi, não sei de que forma fiz, já estava feito. E por incrível que possa parecer, o meu amigo disse que o trabalho ficou muito bom e desde então tem publicado os poemas em português em revistas da Rússia e da Europa. Mas o que ainda mais me surpreendeu é que outros poetas, estes brasileiros, também me disseram ter gostado da tradução. Imagino que todos estivessem querendo me agradar. Para melhor ilustrar a minha sandice, escrevi há anos um pequeno artigo sobre a arte de traduzir poesia. E este relato aqui é para corroborar o que afirmei mais acima, que não adianta me pedirem para explicar os meus poemas, pois eu não saberia. Portanto, eis a razão dos "poemas para L&R", com o caractere tironiano interligando as consoantes, talvez numa tentativa, também impensada, de dar algum sentido a tudo isto. Agradeço por lerem e comentarem a minha poesia, mas não me peçam dela a decifração.

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Se pensares que algum dia te esqueci,

ó minha amada,

e se pensares que outra vez te esquecerei,

estarás enganada.

Te confesso que foi de mim que me perdi

e ao te reencontrar me reencontrei.