O CEDRO

Eu vi uma donzela parada

em meio a uma torre crepitante

esperando ansiosa ser amada.

Eu vi um cavalheiro em uma rua

com sua farda e sua espada, uma

rosa em botão trazendo ao peito

para convencer em afã sua amada.

E vi uma anciã sentada, tecendo uma malha

e alfinetando panos, sem nunca querer chegar

ao fim de sua espera de amor fenecido, passado.

E eu, ao meio disso, com meu olhar,

não era o príncipe e não era o rei. Não era

o guarda das armas; não era o momo,

não era o ébrio da esquina.

Como vi um menino correndo com seu papagaio,

eu também não era o menino. Eu era

o que olhava e era um pouco de todos eles.

Um pouco, somente. Para todas as direções e em

todos os aposentos (mesmo a céu aberto), olhava.

Eu era o poeta que já torrara de paixão

e que agora restava como um belo cedro,

envernizado, lustroso e seco.

Fernando Munhoz
Enviado por Fernando Munhoz em 30/08/2018
Código do texto: T6434868
Classificação de conteúdo: seguro