O que mais amo no meu amor
O que mais amo em ti não é matéria
O que mais amo em ti está lá longe
Nas partes abissais do teu interior;
É o que de divino se deu à matéria.
É a insatisfação de sentir o teu peito
Esmagando o meu, num abraço feito
De avassaladoras forças dum querer
Fazendo a alma pôr-se no amor a crer.
É a essa coisa que é a nossa essência
Que o meu eu interior morre por ela
Não a carne que comprova ausência
Essa, serve para deliciar o vil sentido.
Não amo tua cara sem um pingo de juízo
Que chamou-me atenção sem reservas;
Não amo tua paisagem corporal distinta
Que mesmo relutante me lembra paraíso.
Amo em ti o que não sei com as mãos tocar
Amo em ti o que com palavras não sei dizer
Amo em ti o incolor, o inodoro e insípido ser
Que do teu ámago tem prazer em me provocar.