Velado Amor
Oh, doce engano
Dissimulada negação,
Quem há de crer em tuas palavras?
Fecho os olhos
E passo os dias nesta eterna confusão.
Pois, forçado pelo orgulho
eu nego que te amo,
E que te quero mais que tudo,
E reluto ,solitário, contra o espelho da verdade.
Mas quando te vejo
Os meus olhos me entregam
E o coração desmente os lábios.
Tuas níveas mãos, parecem-me, atravessar o peito
E romper-me as correntes do silêncio e da alma.
Cai-me, então, este inútil disfarce
No sublime instante em que me tocas,
E em cada gesto meu
Em cada passo,
Revela-se a furiosa paixão
Que em mim reside
E as mentiras que eu jurei
E as verdades que eu menti.
Pois basta-me estar em tua presença
Que eu perco o pouco do juízo que me resta.
E sorrio sem perceber.
Diante de teu riso
Sinto-me tão distante deste mundo
E de mim mesmo,
Que as crianças zombam de minha inocência.
Meus sentidos se desgarram um a um,
Como ressequidas folhas
Em ventos de Outono,
A levar-me o ar da boca
E os impulsos do espírito.
Já não sinto mais o chão
Já não vejo mais o céu,
Creio estar vivendo em um sonho
Creio morrer de amor (...)
E em troca deste sonho, anseio a morte.
E em troca deste amor, desprezo a vida.