Para sempre
Ainda que eu me esprema
entre muros crespos,
navalhas da carne,
limpeza da alma,
e rasteje pelo chão quente,
das ruas ensolaradas,
nas cidades caóticas,
(lembranças atrozes),
agarrado em pontas de lança...
Ainda que eu espere o tempo,
o senhor Tempo
com seu engano atraente,
dúvida constante,
frases preconcebidas,
feitas,
indecifráveis...
Ainda que o tempo
das belas rosas vermelhas,
com suas roupas de veludo,
jamais chegue...
Ainda que o paraíso na terra se anuncie,
para em seguida se tornar um fardo...
Ainda que as casas feias, entulhadas,
se avolumem à minha frente,
na frente dos homens pesados e lentos do trilho...
Ainda que, no sonho,
os cabelos estejam cortados,
as palavras sejam cruéis,
o álcool se alastre com bravura
no corpo ausente,
na confusão das enseadas,
na manhã da cama de cercas e perguntas...
Ainda que não existam regras estabelecidas,
e que o empenho brutal,
a doação total,
o olhar sincero,
as promessas fundas,
as promissórias assinadas...
Ainda que nada disso garanta nada,
ainda assim...
Ainda assim eu acreditarei;
tão forte e convicto
quanto o frufru dos vestidos finos
das moças elegantes e ricas.
Mesmo frente ao frio enorme
do verão de março,
mesmo frente às pesadas nuvens que rodeiam
o dia claro e limpo,
mesmo diante da natureza dissimulada do homem,
sim, mesmo diante de tudo
eu sempre acreditarei...
Em nome de Deus,
em nome da vida,
sim, sempre acreditarei...