Para sempre

Ainda que eu me esprema

entre muros crespos,

navalhas da carne,

limpeza da alma,

e rasteje pelo chão quente,

das ruas ensolaradas,

nas cidades caóticas,

(lembranças atrozes),

agarrado em pontas de lança...

Ainda que eu espere o tempo,

o senhor Tempo

com seu engano atraente,

dúvida constante,

frases preconcebidas,

feitas,

indecifráveis...

Ainda que o tempo

das belas rosas vermelhas,

com suas roupas de veludo,

jamais chegue...

Ainda que o paraíso na terra se anuncie,

para em seguida se tornar um fardo...

Ainda que as casas feias, entulhadas,

se avolumem à minha frente,

na frente dos homens pesados e lentos do trilho...

Ainda que, no sonho,

os cabelos estejam cortados,

as palavras sejam cruéis,

o álcool se alastre com bravura

no corpo ausente,

na confusão das enseadas,

na manhã da cama de cercas e perguntas...

Ainda que não existam regras estabelecidas,

e que o empenho brutal,

a doação total,

o olhar sincero,

as promessas fundas,

as promissórias assinadas...

Ainda que nada disso garanta nada,

ainda assim...

Ainda assim eu acreditarei;

tão forte e convicto

quanto o frufru dos vestidos finos

das moças elegantes e ricas.

Mesmo frente ao frio enorme

do verão de março,

mesmo frente às pesadas nuvens que rodeiam

o dia claro e limpo,

mesmo diante da natureza dissimulada do homem,

sim, mesmo diante de tudo

eu sempre acreditarei...

Em nome de Deus,

em nome da vida,

sim, sempre acreditarei...

Borboletas azuis
Enviado por Borboletas azuis em 21/11/2018
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