Édipo tempo

Pó que fomos,

Nutre as raízes entreabertas no coração do meu jardim naufragado.

Meu choro, ainda seco,

Ecoa em vigília de seu amor.

Em sentinela, mendigo por papéis em branco.

-Quero viver novas histórias! Mas não sei dizer "te amo".

E seu corpo?

Vai apodrecendo...

Denunciando todos os meus vícios..

Meus medos vão sendo escancarados, escandalizados à medida que vc, amor meu, se contorce em gozos.

Sua prenhez me enforca.

Em seu ventre travo batalhas entre meus mostros marinhos;

Nas profundezas e escuridão de seu útero seus fantasmas me cortam as pálpebras.

De suas entranhas vejo prematuramente o sol sem esquecer um segundo que te amo.

Bar sujo e cerveja quente

Imito Dionísio e nasço outra vez

Meus olhos sem cessar gritam pelos seus:

"-quero ser o novo Édipo! "

"Quero a fruta mais fresca de seu pomar,

Porque, pó que somos, nutrirá os jasmins.

Bebi todos os seus pecados

Comi todos os seus valores morais .

Hoje sou seu vômito,

Sua náusea.

Mas depois da febre serei seu deus.

No raiar da aurora nos faremos poesia

Da canção o refrão

Do tempo o infinito

E da vida, a morte!

Organico
Enviado por Organico em 13/12/2018
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