BORBOLETA
Era uma vez uma borboleta
Em vez de asas, usava muletas
Na incerteza do amor
e das possíveis beleza da vida
Após ter seu par de asas roubados
enquanto dormia
Escolheu virar andarilha
Permitindo-se viver dos amores terrenos
Descobriu como um furacão pode ser sereno
Andando de galho em galho
sem poder alcançar seus galhos mais altos, deu valor e viu beleza no que esteve ali embaixo
Seu paladar acostumado com um sabor afrodisíaco,
agora saboreava [e se viciava]
No doce fraco
apimentado
leve
amargo
quase enjoativo
de flores de nomes desconhecidos
A borboleta
mesmo amargurada
por ter perdido suas asas
sentindo falta de quando voava
Tornou-se amiga da terra
E de tudo que havia nela
Percebeu que ela não era um peso para a Terra,
e sim que esta era o peso dela
Enquanto voava continuava levando um peso
A diferença é até o vento atravessando suas asas de pano
transformavam tudo em um inaceitável engano
A borboleta
Sabendo dar equivalência ao que envergou suas costas
Percebeu
Tudo
O
Que
Suporta
E porta
Lembrando de sua metamorfose
Das suas belas asas
Suspirou: "que sorte..." Afundando-se em uma nostalgia cansativa
Tentando resgatar sensações
aparentemente infinitas definhou... Pensando que era o fim
Vivendo...
Apanhando...
Andando...
Envergando-se
cada vez mais
A dor lhe cobriu por inteira
Tentando tirar-lhe o último suspiro
Era o fim de uma vida
Em vão agora estavam todos os motivos, lutas e sentidos
O sol já escurecia
e o frio alcançava a ponta dos dedos
Quando um forte impulso dentro de si levou embora todos os presentes medos
Ao abrir os olhos, amou em segredo
Uma bela lagarta
ali apareceu
Teria vindo só para abrir um casulo coberto de enxerto
Agora
A borboleta
Passava pela segunda metamorfose
Duas vezes
Duas vezes
Ganhou um par de asas de ferro
E verde
da cor da sua esperança fina
Eram os seus meros enfeites
Estas eram as muletas
Hora necessárias
Hora abandonadas
A todo instante
O motivo de sua eterna caminhada