Essa é a terceira reencarnação te procurando

Quando o universo não era universo,

Quando o próprio verso significava o inverso,

Quando a linha do tempo não tinha um dedilhar convexo,

Quando a própria escuridão era sinônimo de fazer luz,

Quando a própria luz fazia das trevas seu jus,

Quando desconhecimento do conhecimento era o ápice de tudo que seduz,

Podia confortar uma dúvida fatalmente imortal num tom que aduz,

Numa existência fadada em cartilhas de seu atroz servente que conduz,

O infinito fardo de manter a onisciência do destino,

Não sabe se dessa gota ártica vem a tempestade grossa ou o congelamento fino,

Não sabe do que é feito o amanhã que ainda não existe ou se é o livre arbítrio do confino,

É um suposto mimo,

De esforço mínimo,

De um Deus mímico,

Áspero aclirico,

O ser eu lírico,

De ser um ser,

Para ser o que deve ceder,

A primeira vez que abri minha córnea castanha,

Em existência infinitamente estranha,

Sou a célula de uma comunidade de entranha,

Cancerígeno que não se acanha,

A história de um mundo infértil,

O céu têxtil e a terra fértil,

Duas existências,

Destinadas a divinas consequências,

Tudo é destino ou íntegras conveniências,

Basta procurar suas verdadeiras essências.

Ei de primeira expansão,

O primeiro acórdão da canção,

Um mundo infinito do início até o chão,

Duas almas singelas conceituadas em mão,

Esse foi o primeiro sermão do oleiro,

Cognitivo conselheiro,

Se trama amor do derradeiro,

O brandir de espadas aos olhos do ferreiro,

A primeira poeira de pólvora,

O primeiro brilhar da aurora,

Fagulha-se alma em barro sintético,

Transformando prosa em dia poético,

O humanamente demônio ético,

Em um manchar eclético,

Aqui é a primeira reencarnação atroz,

De dois pássaros bárbaros ao feroz,

Que por nós,

Atam-se auros nós,

Num correr de passos por antigos vós.

Num arrepiar de vida,

No segurar de íngreme descida,

Antes que o divino decida,

Parte-se do início pontual,

De um ponto inicial,

Duas aves em terra de homem,

Frutificavam-se da natureza que comem,

Em troca suas vidas lhe consomem,

Das intrigas que poderia passar-lhe por navalhas,

A existência branca passeava entre canalhas,

Enquanto a existência negra do contrário se intrigava,

Do sussurro do senhor veio voz presente,

Que no presente dessa vida que procura o presente,

Há maior símbolo de Pai descontente,

Quando o primeiro grito estridente,

Fez as existências do momento presente,

No primeiro suspiro profundo de um derramar,

A alma do irmão voltou para o lar,

O primeiro ser a pecar,

O órfão da infinita paciência,

O grito seco de uma impura clemência,

O primeiro ato de ciência,

A descoberta da inumana indecência,

A existência negra intrigou no braço da Colecionadora,

Assistindo o primeiro trabalho da sua domadora,

Enquanto a existência branca vivia uma aflita situação transtornadora,

A inconsequência do que Deus adora,

E a dúvida de existência aflora,

Que num mundo afora,

Era o pecado cor amora,

A existência negra bica o irmão assassinado,

O primeiro gosto de carne do mundo criado,

Desce-lhe o descobrimento ainda quente,

Da carne do crente,

Fizera o divino estridente,

Mas era a procura de limitado conhecimento congruente,

Caía em suas asas paradisíacas o peso de um transtorno,

Símbolo de demoníaco adorno,

A colecionadora era seu dono,

O cruel abono,

Enquanto o pássaro alado,

Mantenha-se eternamente calado,

Nunca trairia o divino aclamado,

Mesmo que significasse não se juntar ao seu amado,

A segunda maçã foi comida singularmente,

Sem precisar que o diabo lhe atente,

Não houve uma única mentira naquela mente,

Só queria conhecimento congruente,

A existência negra virou o corvo renegado,

A existência branca virou o sabiá sagrado,

Dois filhos do nunca encarnado,

Dois amantes divinos separados,

Ao sabiá recebia-a com a mão enluvada,

Ao corvo o balançar da espada,

Até que a ameaça veio do céu que voava,

E uma flecha lhe rasgava,

Não havia diferença entre a pena azul e a pena branca,

Maculavam-se de forma branda,

E de forma franca,

Reviravam os olhos para a superior aliança,

A primeira reencarnação teve gosto de conhecimento,

De amargo entristecimento,

Mas ali reluzia um abraço e um juramento,

Que do mistério do renascimento,

Teria-o novamente independente do acontecimento.

Acordavam de um pesadelo ensolarado,

A lágrima cristalina concretizava o passado,

Mas agora ambos reencarnados,

Esqueciam os seus fardos,

Esqueciam que eram amados,

O corvo forasteiro virara homem de rimas,

Escrevia sua alma melhores que as mudanças de climas,

Filho de palavras de cataclismas,

Profano de religiões vividas.

O sabiá costumeiro virava mulher de textos sábios,

Pois sabia diferenciar ciência de alfarrábios,

Adaptada a todos os cenários,

Agradável a todos os berçários,

Não fora manchada pelo pecado mas tinha vermelhos lábios,

Depositava sua alma em livros nos armários,

Filha de pais canários,

Santa contra os carcerários

Um vivia de poesia mas sangrava heresia,

A outra de prosa mas banhava-se em católica alegria,

Ambos atravessavam as ruas em busca de seus afazeres,

Dois peões num jogo de superiores seres,

Se amavam e não se conheciam,

Se cumprimentavam mas não seguiam,

Sorriam mas não sentiram,

Pisa em terra e pisa em cascalho,

Descansa em Limoeiro e descansa em Carvalho,

Quando juntariam essas duas gotas de orvalho,

Duas bandas de um só alho,

Até que a cabeça encontrou a outra desastrada,

Num pedido de desculpa esfarrapada,

Trocaram de cadernos e partiram em disparada,

Numa pressa ligeira de ir pra casa,

Então a história da vida e da morte poética,

Encontraram com o conhecimento de moral e ética,

Procurando por toda cidade pelo dono da escrita,

Um tomando café e o outro comendo batata frita,

Um enterrando conhecimento humano e outra desenterrando rimas de cripta,

Das horas passando,

De horas procurando,

Nenhum imóvel e ambos andando,

Até ela subir na torre do convento,

Gritando o poeta ao vento,

Ele não se fazia de isento,

Subiu escadas rangindo em ar pesado,

Procurando o trabalho de uma homem agonizado,

Encontrando seu livro amado,

Batendo os olhos num ser encantado,

Ela o viu,

Ela sorriu,

O reencontro conseguiu,

Extendeu o livro e ele pegou a mão prometida,

Se fosse outro ela falaria que seria atitude intrometida,

Mas recusá-lo era atitude perdida,

Pois era sinônimo de terra prometida,

Deus se enfureceu,

Ao corpo da dama desceu,

E providenciou que o destino procurasse um mundo que esse amor escureceu,

Enfiou-lhe a faca e torceu,

O corvo novamente cedeu,

De joelho no chão,

Não soltou a gentil mão,

Sangrava o tal peão,

O eterno virou não,

O interno não aceitava não,

Morrer na mão da amada é uma benção,

Procurando-a novamente na próxima reencarnação,

Ele caiu e o último suspiro quente encontrou o inverno,

Ela presenciou o vívido inferno,

Em revolta expulsou o interno,

Chorou em cima do terno,

Em resposta ao destino que Deus interferiu,

Uma última vez sorriu,

Pulou no vidro da torre e sentiu,

A cabeça atônita se partiu,

Assustados procurando fôlego para respirar,

Viam diante de uma nova vida a se amar,

O Todo Poderoso só poderia esperar,

Pelo novo encontrar,

Humano e mundano,

Um ignorante surtando,

Uma fiel de rabo abanando,

O corvo da eterna pena,

O sabiá sem pena,

Nova vida e nova era,

De destino e vida severa,

A atitude de Deus era o voto de Minerva,

Colocou falsos corvos na vida do sabiá sagrado,

Colocou falsos sábias na vida do corvo mortificado,

Um conhecia quem era seu amado,

Mesmo que os falsos mantinham o lugar ocupado,

Falsos amores,

Viventes dores,

Falsas cores,

Verdadeiros atores,

Mas antes o inimigo,

Virou próximo amigo,

Ambos olhando pro umbigo,

O sentimento ambíguo,

Foram destinos e reencarnações,

Divinas atitudes e demoníacas sanções,

A iniciadora de cantos e o finalizador de canções,

O mesmo Deus caçador de corações,

Senhor das finalizações,

Mas seus eternos galardões,

É a única coisa que faz Deus ser onipresente, onisciente e onipotente,

Por mais que ele infinitamente tente,

Não pode separar esse amor contente,

Esse sorriso dente a dente,

É sentimento ardente,

De um destino que não mente,

Mesmo que se amando e andando lento,

Ela tenta e eu tento,

Tudo com ataque ciumento,

Amo-a e me contento,

Pois sei que o sabiá branco está lendo,

Esse amoroso juramento,

Que não viu abandona-la jamais,

A amando demais,

Há atrito mas não desfaz,

Eternamente submisso a esse amor nessa vida e nas próximas mais,

Todas as informações,

Todas essas menções,

São frutos de três amadas reencarnações,

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 24/01/2019
Código do texto: T6558679
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