AMOR AMARELADO

Tuas palavras, teus gestos

Me ressuscitam da dor, da perda indissolúvel

Rostos afugentam como o pó de café solúvel

Lembranças invadem meus castelos

Tudo se embaça juntam meus restos

Tua boca, teu cabelo, meu desmazelo

Agora me amadureces de verde e amarelo

Quando na verdade estou no vermelho

Tanto tempo há que te deixei

No tempo de sumir

Que acabei te reencontrando bem sei

Tantos anos depois de me punir

E hoje ao te reencontrar em ruas pueris

Pisei na relva das flores da primavera

Que estavam adormecidas dentro de minha raiz

Me aprisionando nas sombras que nunca estivera

Há tantas covas dentro de mim

E em teu sorriso umas covinhas

Sei que o destino enfim

Juntam as flores pra se livrarem de ervas daninhas

Lágrimas são hóspedes intensas

Que saem sem despedir

E não adianta as carpir

Pois que suas raízes são imensas

Sinto que aos poucos tudo medra

Dentro do meu peito ainda queima

Não o amor pois coração virou pedra

Mais a paixão que em arder ainda teima

Estou aquartelado dentro de mim

Como num casulo com medo de ver as flores

As dores que todo corpo tem, enfim!

Senti teu hálito quente subir em estupores

Tudo a seu tempo até as asas dos cobertores

Baterem e nos gestos ciliares

Saberei na escuridão descobrir tuas cores

Até gozares em mim a solidão das velas engolfadas dos mares

Não se perturbes se mesmo assim

No negrume em que eu me encontro

Teu farol em mim se apagar neste ínterim

Sei que mesmo assim há luz neste desencontro

O negócio é deixar fluir

Sem cobranças como um barquinho de papel

Não haverá sequelas no seu construir

E quem sabe assim como uma arca suba ao céu

Quero que reflitas que nem sempre o anel é um selo

No dedo até cabe, mesmo que apertado

Mais a Deus não nos cabe conhecê-lo

Assim é este amor que amarela, mais de dourado...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 10/02/2019
Reeditado em 10/02/2019
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