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Poema em dois atos

I

Havia urgência,

Faltava-lhe ar,

Urgência de amar.

Era emergência,

Faltava-lhe amor,

Então, displicência.

Era pictórica... não, sanguínea,

Continha vermelho fogo da paixão,

Ardia-se em uísques;

Vida como pantomina,

Arte, talvez decoração

Ou sonatas de Liszt.

II

Albernéssia,araucárias,

Sombras do Morro do Elefante,

Vapores da cachoeira Véu de Noiva.

Frio cortante. Doentes como párias.

Soma de peitos arfantes,

Hemoptises, tosses, as mesmas coisas.

Sob o aconchego da lareira

O urro de orgasmo com estertor.

Na selva amorosa, a clareira,

Que não pode ser coberta pelo cobertor.

Tudo, tudo por aquele amor,

Ainda que o preço fosse desenlace;

Aquele amar derradeira dor,

Morte e vida, face a face.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 17/03/2019
Código do texto: T6600229
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