QUERIA EU
Queria eu, ser a vassoura do tempo como esponja de borrão para expungir toda a tua angústia e tuas dores.
Queria eu, ser o equívoco de tuas tristezas e de tuas lembranças ardis e infindas.
Queria eu, ser a tua solidão como tua companhia inesquecível, incansável e inesgotável para a ordem dos teus pensamentos.
Queria eu, ser a chave da solução que abriria o cômodo do esquecimento onde trancafiaria todos os teus medos e angústias.
Queria eu, ser o claro da lua altaneira que alumiaria e que aquietaria a tua alma.
Queria eu, ser o mensageiro dos ventos e o bálsamo que aliviaria teu inquietante coração.
Queria eu, ser as lágrimas mornas da felicidade em tua lasciva face, e o baú das tempestades no tempo do teu esquecimento.
Queria eu, ser o alívio da tua inquietude e o peregrino da tua fé.
Queria eu, ser o brilho dos teus olhos como a luz que te clareia e te faz guiar.
Queria eu, ser os raios do sol fagueiro lapidando o teu sorriso e o brilho no teu plangente olhar.
Queria eu, nos infortúnios da vida ser a tua paz e a tua esperança.
Queria eu, no teu sofrimento não ser a tua penitência, mas o teu alívio.
Queria eu, nos teus lábios ser o mel que adoçaria o teu palato, quando lá existisse o amargo do fel.
Queria eu, na tua descrença, ser a serenidade e um norte fecundo existente na tua vida.
Queria eu, ser o tinteiro do bico de tua caneta na escrita de teu destino.
Queria eu, ser a fornalha de teu fogo para em tuas chamas me aquecer.
Queria eu, ser as larvas ardentes do vulcão de tua alma para nelas me queimar.
Queria eu, ser a urna fúnebre do seu passado e o labirinto de seus desejos e de suas vontades.
Queria eu, em meus pensamentos ser um pássaro do amor para pousar e povoar o teu nobre e incansável coração!