ROMANTISMO
Entreguei-me à ditadura do sentimento
e me habituei às algemas.
Feliz em meu cárcere, ria
das coisas mais fugidias.
Ele era o louco da cidade,
mas eu o aplaudia.
Achava os seus jogos
a mais esfuziante festa.
Vivia a paixão com ímpeto,
sem medo me atirava
das mais altas colinas
em nome do amor.
Mas eu não sabia
que estava morrendo aos poucos,
arrebatada pelo vício
de querer sempre mais.
Dizia querer ser dele, mas era o oposto:
eu o prendia à luz do meu dia.
E sua presença me sufocava
e me iludia.
Quando dei por mim
senti as algemas
que eram leves demais
em minha insânia.
E respirei fundo
e, no fundo da minh'alma, bateu
a luz da razão.
Pude enxergar de novo.
Frágil é o amor do Romantismo:
suas crises de abstinência
são as mais dolorosas.
A razão não é tão má
como pintam os românticos:
saber porque se ama
não sufoca, nem mata.
É maduro o amor
que suporta o frio do mundo
e resiste, chegando
mais forte do outro lado.