Coisas nossas

Meu sonho é ter uma casa na beira do nada, mas que seja

abismo; só eu e você. E que lá nasça um sol sempre morno

e bons pensamentos. E ele, o sol, batendo na terra de ondulações, desértica e vermelha, reflita no ar o tom de quando se põe, de

forma a nos causar a dúvida sobre as horas. Dormiremos na noite

clara, mas não luminosa, apenas alaranjada, sem que isso atrapalhe

o sono que a treva faria. Que lá chova forte quando bem quisermos,

que corra um rio, que tenha uma estrada beirando as nuvens, que

cresçam frutas e flores, que haja música, também outras coisas

nossas, e que as saudades da casa paterna habitem bem à nossa

frente, como hologramas materializando pai e mãe. Nunca mais

exista dentro de nós qualquer ordem de saudade dolorosa e sem pagamento imediato. Eu quis tanta coisa, né? Eu fico me perguntando

se isso tudo, realmente, poderia estar na beira do nada!

Borboletas azuis
Enviado por Borboletas azuis em 04/05/2019
Reeditado em 04/05/2019
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