resistência

eu não sou as coisas

as coisas passam por mim

eu não sou nome, objetos nem sentimentos

eu não sou altura, cor, nem voz

nem nada

que eu não escolhi

eu sou só o que eu escolhi

minha bondade, meu perdão,

a mão que eu estendo

o pulso, a garra, a força

tudo que eu aprendi sendo mulher

numa época que se diz revolucionária

mas revolucionária não é

que ainda escodemos amores,

cores, e dores

que morremos deitados no que amamos

que nunca levantamos

que estamos famintos

de sede e de fome

que não seguimos nossos sonhos

que sonho não põe pão na mesa

que usamos armas quentes

em nome da paz

eu não sou nada do que eu não escolhi

eu sou o que resiste

do que eu não pude escolher