De amor morrerei
No silencioso calar da dor que meu corpo come,
Aprecio o horizonte a rogar e o ardiloso sonho esgueirar-se de meus olhos que nada consome,
Pisoteio os cacos de uma matéria que um dia existiu,
E de meu coração tanto lamuriar-se, a eutrapelia simplesmente sumiu.
Nem mesmo os arcanjos saberiam um dia boquejar o cântico dos que sem alma se encontram,
Peregrinando sobre a própria dor que formou-se daqueles que amam,
A perquisição já é vã e o desenlace genuíno já não é,
A sentença é tão agonizante para aqueles que são abraçados pela fé.
Onde estariam prostrados o cintilar das estrelas senão na via de teus olhos?
Onde está a luz quando olho para os céus a tua procura?
Onde está o ardume que tanto enlaçava-me e agora já são falhos,
Onde está você que trasladava a minha dor e era a minha cura?
Tento encontrar-te, mas quando vos procuro, me perco na vastidão do que tu és,
A dor que em minha alma transborda é como pisotear o ardor com os próprios pés,
Asseverou-me que quando o revés viesse seguraria minha mão,
A única coisa que fizeste foi deixar-me com a solidão.
Amo-te, tanto, com a inocência dos que nascem e transpassam,
Com a brilhantura dos que vencem e o desgosto dos que fracassam,
Amo-te, tanto, com a graciosidade da veracidade e com a discórdia da encravação,
Amo-te, tanto, como se não tivesse nenhum e possuísse qualquer coração.
Seria eu, tola por amar-te mais do que sou, ou seria tu, tolo por amar-me mais do que podes?
Seria eu, inocente por acreditar que um sonho venha a viver, ou seria tu, tolo por acreditar que o adeus faz sofrer?
Seríamos nós, vítimas do padecer do amor,
Ou seríamos nós, ilusões do destino que desatinam a dor?
A decifração não sei, e duvido que um dia um mero mortal venha a resolver,
Se soubéssemos de todas as coisas a lucidez viria a falecer,
Não importa de onde vim ou para onde irei,
O que importa é que, sempre,
majestosamente, de amor, morrerei.