Muralhas

Tijolos, um a um, sobrepuseram-me no coração,

Era instante de eclipse, o brilho se esvaia.

A cada desencanto meu, dor, nova desilusão,

A muralha se formava, sua sombra se estendia.

Tijolos, pouco a pouco, foram-se realinhando

Ao teu semblante, gesto, sentimento teu incontido.

Na turbulência, nossos corpos se entrelaçando,

A fortaleza se transmutava, tornava-se em abrigo.

Tijolos, ponta a ponta, eu desfazia, desmoronavam.

A luz do sol por seus vazios já penetrava, invadia.

Quanto mais te amava, mais minhas mãos se calejavam

Na construção do jardim que tua claridade absorvia.

Nas ruínas, pedra a pedra, recomponho tua partida,

Reúno teus fragmentos, caminho agora pelo árido chão,

À noite, lembro-me dessa tua fera outrora adormecida,

E, com tua ausência, desperto-me para este mundo cão.

Juntem-se os escombros, faça-se argamassa novamente.

Ao recordar o que se foi e a desesperança de te ter,

E face ao que perdi, e não mais viverei plenamente,

Erga-se novo muro com cada lágrima minha a escorrer.

Caio Marcellus Borba Lins da Silva
Enviado por Caio Marcellus Borba Lins da Silva em 03/11/2005
Reeditado em 12/11/2005
Código do texto: T67004