Minha resma

Em minha escrivaninha há uma resma.

Alva e ansiada como só,

Vive a queixar-se das navalhas que a ferem, por culpa dela mesma!

De repreender-lhe me canso, dizendo:

“Resma tola e inocente, pare! Pare de pulsar pelo incerto,

pelo impossível! Pare de pulsar por este sonho louco e intangível!

Antes que o vento te leve e nenhuma folha te reste!”

Mas a teimosa insiste, resiste à razão.

Mais ainda aflige-se quando vê o tinteiro vazio e sua pena secando.

A ele falta o encontro do amor real e puro, como num encanto.

Um dia, nela há de ser escrito o mais belo dos nomes,

junto ao meu.

E estes, quando lidos formarão o mais belo dos sons.

Mais do que quaisquer que na resma já se leu.