O meu pai vem subindo a ladeira na rua da nossa casa
O meu pai vem subindo a ladeira na rua da nossa casa,
tem às mãos vazias, o corpo dolorido,
um coração despedaçado, contrito,
repleto de desejos já quase esquecidos
pelas lágrimas que depositava sobre o seu rosto
confundidas com o suor do sol há pique.
O meu pai vem subindo a ladeira na rua da nossa casa,
derrotado, machucado pelo desânimo
por tantas portas fechadas, pelas bocas famintas,
nos calos dos pés e nos calcanhares rachados
de correr contra o tempo, e esbaforisse pelo tempo,
que o tempo não nos concede.
O meu pai vem subindo a ladeira na rua da nossa casa,
a felicidade não conhece o seu rosto,
tão pouco sabe sorrir, este sentimento não existe,
somente o vazio concede um pouco de paz,
os nossos gritos famintos endureceram sua esperança,
e a mão sobre nossas cabeças inocentes
transforma o carinho em desespero,
trazendo o pranto solitário de um lutador.
O meu pai vem subindo a ladeira na rua da nossa casa,
cabisbaixo, arredio, sem perspectiva iminente
para mais uma noite de insônia e orações
pois a sorte é um verso amadurecido pela necessidade.