Perder para achar

Preciso que me quebres

para tornar-me inteiro

em teu peito

e que me devore

como buracos negros

devoram

galáxias

inteiras

para que se tenha

alguma saudade minha

no interior

do teu coração:

um pouco antes

da superfície

da alma

Alinhe todos os meus medos e

paixões e

pensamentos longínquos

para formar

uma constelação

sem nome

que brilhará apenas para ti:

diante

de teus olhos

d'noite

Alinhe os meus beijos

nunca dados

rumo aos teus lábios

vezes rubro

vezes rosado

vezes despido como um oceano

não descoberto

pelas grandes

navegações:

perca-me

para que eu possa ser achado

nos achados

e perdidos

que o próprio tempo

abriga:

me dispa de todos os delírios

de todas as canções

que nada dizem,

mas que tocam

nas rádios das casas

e do mundo:

enviados

por uma frequência tímida

que cruza polos

trópicos

e equador

Tudo que eu sinto

brota de um silêncio

disfarçado por sorrisos

enquanto o corpo

é censurado

ou rejeitado

por quem o tem

por quem o possui

de modo carnal

ou não

Abrace-me:

retire esta indiferença

que me toma

na maioria das vezes,

este não me importar rígido

este ato

não humano

Abrace-me:

pois me sinto ameaçado

por mim mesmo

quando estou a interpretar

nuvens

estrelas

textos

e raramente manchas

pós chuvas

Quebre-me como vidro inaceitável

e me junte

como um quebra-cabeça

e me aloje em teu coração

em segredo:

um pouco antes

da superfície da alma

onde eu possa

continuar

a sentir

como me olhas

quando te olho:

olhos pacíficos