Ondulações rubras

O amor no seu tempo futuro

é abissal

indeciso

agridoce

e pouco se sabe

senão que hoje

se beija e se ama

e se fazem promessas

sobre eternidades

na presença

de um carinho suave

e pacífico

de estar inteiramente

presente ali

e em nenhum outro

lugar

além

Ser de fogo

e ter água

a circular

nas veias do infinito

como um grão de sal

na doçura do mar

do nascimento:

e este pensamento

é vago

quando ouso pensar

na profundidade

do que sinto

me fazer viver

e transitar despido

abaixo de cachoeiras

e enigmas

e fluorescência

de mistérios

noturnos

regionais

No entanto sei pouco

ou quase nada

de modo sincero

acerca do amor

e do enxame de abelhas

calorosas

que vem inclusa

na colisão de lábios

terrestres

abaixo da chuva:

e apesar de terrestre

voa-se

e não se decompõe

em cânticos de trovões

e línguas orgânicas

que praticam

e falam

diversos idiomas

num único instante

de silêncio

terno

O que guardo abaixo do tecido

e que pulsa

na proximidade

da magnética presença,

nunca dorme

e cultiva tudo que é belo

e não consigo te dizer

a razão:

pois não me inventei

e tu és real

com todos os traços

d'uma possibilidade

impossível

e o meu querer

é ativo

como o núcleo da Terra

e diante da tua existência

me acendo

neste amor

que por várias vezes

não sei

descrever

quando estou

a te

querer:

porque é algo incomum

de intensidades diversas

e com linhas cartesianas

com rumos que

não sei decifrar

senão

que sinto

e sei

que sinto

sem saber dizer

como me sinto

porque sinto

e nunca

me apago

ainda que a noite seja eterna

numa eternidade distinta

da minha

como descreveram

os sonetos nas folhas

outonais

que colidiam

com a tua epiderme

de cânfora

e vitalidade:

que posso fazer

senão dizer

que te amo

por te amar tanto

que um dia

hei de morrer

e renascer

na orientação

dos lábios

teus?