Diagonal de um Eros

Ter-te como água

que se esvai pelas

mãos

porque a natureza

não nasce

para

a posse

e o gostar

é um reflexo vulcânico

que rompe

a utopia

feito o nascimento

de uma criança

Ter-te e não te ter,

feito o vento

que toca os meus ouvidos

sem nada dizer

e que deixa

uma presença terna

numa

lacuna da memória

e do corpo

Ter-te e recusar a te

ter, pelo não

merecimento,

pela necessidade

dos lírios

brotarem

portando

toda

a delicadeza

e se firmarem no

solo

e retirar dos minerais

a fragrância

da vida

ao lado

da fotossíntese

Ter-te seria um

pecado

embora

nunca tenha me

declarado santificado,

mas humano,

apesar da palavra

vaga:

ter-te seria confuso

e provavelmente

um passo avante

na inexistência

porque o sentimento

nasce da naturalidade

e se mistura

à estranheza:

e tu me és tão literária

que de te conhecer tanto

esqueço quem sou

e que existo

e me sinto invadido

por esta profusão

de enigmas:

inundado

por recordações

de um passado

mais presente

que passado

Ter-te nas auroras

e nos poentes

que me anula o terrestre

e que me transmuta

num ser aéreo

ligado

às estrelas:

ter-te,

não querer te ter,

querer te ter para

ter-te

e apaziguar

a minha alma egoísta

que busca por tua

presença

na América Latina

e não encontra mais

que a bandeira

de uma Argentina

que me nutre de esperança

com teu sol

central

e que ao mesmo

tempo

apaga tudo

com o teu azul

de temporal:

afogo-me num peito,

no meu peito,

tão ausente

de nós