alimenta-me de orvalho

1.

Não me dê a angústia,

dê-me a piedade

da intenção,

pois apesar

d'eu desbravar

florestas

e afundar-me

no leito marinho do sigilo:

posso ser levado

no pensamento,

tomando

parte mínima

da tua memória

O que é útil,

quando se carrega

o peso

de uma decisão

e o mundo

nas costas

2.

Acendo a minha alma

no abismo do fugaz

entardecer,

transito-me nos córregos

da infertilidade

e do silêncio,

atravesso o Éden

com andrajos

de uma dúvida primária

– preciso

estar em mim;

apodreço

entre o outono dos plátanos

e as rotações

do homem cego

que partilha o sangue

feito flores

num luto

onde

não se chora,

mas se revolta

e se decide

ir à luta:

para então

padecer

feito um crepúsculo

– caminho uruguaio

de esquecimento

3.

Não me dê a tributação

do terreno

nem a dualidade

significativa do olhar

oculto entre as gramas;

ame as Miragens,

ame o Impossível

de ser

e de

se alcançar,

ama-te e ame estas

veias abertas

de um continente

devastado,

mas inocente

e órfão

de si:

porque o sorriso

a tranquilidade

e a beleza indizível

inda pode

[re]nascer

neste solo,

nesta terra,

que é de todos,

e que abriga no íntimo

todas as

línguas