eco da tarde
1.
Espero jamais ser
o homem
destruindo
o lirismo puro
das tuas madrugadas;
espero jamais ser
o Ser consciente
que
abrirá
não
um
sorriso em tua boca
de palavras
tropicais,
mas uma ferida
que na tua alma
residiria
até mesmo após
a terra e as flores
cobrirem
teu corpo de Eros
e teu rosto
de Sirius
com algum olhar
de resistência
2.
Beberia um cálice
de cicuta
em teu nome
e sobrenome
caso tu
viesses
a matar
a ti própria
em março
ou no início
de alguma primavera
abundante;
mas descobrimos
que viver
é morrer
aos poucos
e que o relacionamento
é o compartilhamento
da Soledade
através dos poros:
vimos de perto
a ilusão
do eterno
3.
Pensei naqueles teus
olhos tão tristes
com o não-significado
da vida
com o não-significado
dos nossos gestos
na camuflagem
silenciosa
do escuro:
no escuro,
onde se é
permitido
sorrir
4.
No entanto
não tínhamos
motivos
vivos
para sorrir
– então inventamos
mentimos a nós mesmos
para diminuir
as nossas
angústias:
porque la extinción
de un dolor,
no es un deseo
permitido,
pero
una posibilidad
ahora
muerta
*
*
Tu és viva
– viva demais para viver
para apodrecer
e para morrer
comigo
neste meu
exílio