os oceanos calaram-se há muito
1.
Afago teus fantasmas,
teus medos;
tranquilizo
teu desespero
diante
da boca abissal
de uma noite
tão obscura
que a mínima luz
fora
adiada
para outro século:
porque
algumas cousas
se desmancham
na carícia
do trópico
2.
Afago teus fantasmas
e tudo
me é silêncio
e uma estranha
Soledade aguda
a invadir a carne
e a desequilibrar
o enigma
do teu riso
– que é
minha pátria
não afundada
pelo tóxico
do cotidiano
veloz:
certos gestos
são poucos
na imensa distância
– certas cousas brotam
e sangram
por habitarem
a crisálida
da humanidade
3.
Afago-te no lirismo
das madrugadas
sem auroras
e apodreço entre
as grossas folhas
de hortelã
que perfumam
o contexto
da intimidade
para que não beijemos
a vertigem:
como se o afago
fosse algo
tão irrisório
numa cousa tão
efêmera
como a vida,
como se o afago
se perdesse em tua
própria
pronúncia
*
*
feito um poema,
que se perde
inteiramente,
na tradução
4.
Afago-te na ilusão do
carma, no círculo
da cegueira, nas trilhas
de um horizonte
uruguaio,
na ternura
de um abraço chileno,
na incerteza
de um tempo tão lento
que a pressa de amar
emanará
dos nossos olhos
já fragilizados
pela condenação
à liberdade
*
*
*
Afago-te para manter
vivo
– quem sabe
infinito,
tudo aquilo
restante
que inda
não
se obliterou