Chamo teu idioma

1.

O alfabeto

é um

sistema

de estrelas

e o teu corpo

– que é o teu tamanho

no mundo – aspira

a aurora dos polos

e o hemisfério

cantante:

és o teu nome

que procuro

na vastidão

da minha alma,

és o teu nome

a constelação infinda

que ilumina

a minha

matéria

sem signo

nem batismo

2.

Tenho pranteado

sobre as rosas

e na dor

de um horizonte

profundo

que simula

uma boca

– que não é

a tua;

era uma boca aberta

para rasgar

as confissões

das cem

ideias que te

procuram

3.

Nas alamedas de sal

e silêncio, tropeçando

em charcos,

imaginando juncos

e nêsperas,

cultivando a espera

– a espera tua –

como uma

necessidade

fundamental

da vida minha

4.

Os ponteiros giram

sobre a minha busca

e tinge de sangue

os jardins

por onde passo

– como se aquilo

fosse

o meu mais feio

e mais sujo

pecado

5.

O desejo pousa no

teu sexo distante

e o meu andrógino Eros

procura

a tua ternura

a tua carne

e os teus poros

na capital

esverdeada:

procuro-te nas pedras lisas

nas fábricas obscuras

na explosão

das greves

na classe

esquecida

e no desencanto

político

– e nada encontro

da epiderme

do que

tu és

6.

A certeza do teu

semblante arde

na brevidade

atmosférica

de um poente

em

Montevidéu:

teu ser ultrapassa

a moldura

das minhas mãos

que se arriscam

a contar

os canários

que não retornaram

das minas

de carvão

7.

O assovio do teu

nome através

dos ramos de trigo

é o meu

desassossego

boliviano-argentino

e a Saudade tua

é um martelo

em contínua colisão

contra a superfície

nua

do meu coração

que nunca

dorme