Poesia aparente
O que os outros olham em mim é o oco.
Casca deformada pelo tempo, com afinco talhada.
Trago comigo sinais de velhice, cicatrizes nos joelhos,
noites de insônia estampadas em meus olhos
e um falso sorriso de felicidade, congelado, no meu rosto.
É tudo isso que os outros vêem.
Mas tu achas isso irrelevante.
Consegues enxergar no oco o pouco.
E pouco, acredito, tu não queres.
Somente tu e eu escutamos os rios dentro de mim.
É o canto que combina com o barulho da chuva
que teima em cair nas ruas do teu coração.
Tu olhas dentro, por dentro, da casca
e se alegra em ver que rabisquei em cada canto o teu nome.
Tu ouves o sussurro do meu peito, clamando por ti
e corre, corre. Voa, voa. Logo me abraça.
Somente tu e eu – tu e eu, amor meu,
nos contemplamos.