[ sem título #14 ]
I.
com o coração partido
platonicamente
— perdoe-me,
Platão
perdoe-me,
Platão;
leio contos
e penso poemas
quaisquer a serem escritos
ou lidos
numa vontade turva
de compreender
que tudo é sonho
e sono
quando surge
a lua em sua fase
possivelmente
mais pura.
II.
me sorriria a manhã,
se eu amasse
de verdade;
me cantaria os pássaros,
se eu ficasse
mais tempo
a
observar
a graciosidade
com que um gato
se lambe
se banha
se limpa
debaixo
de uma cadeira.
III.
o amor platônico
— mas e o poeta fingidor
que por vezes finge
a própria dor;
ama iludido?
Que fazia Drummond
antes de saber que
o amor
é bicho instruído?
Que fazia Gullar
no espanto na vertigem
na saudade e na luta operária
quando lhe passava
o amor
como um lampejo
que ilumina
apenas parte da cidade,
aqui ou
em Buenos Aires?
IV.
O'Neill
y seu adeus
português.
Helder
y seu amor
que martela.
Ruy Belo
y seu perdão
y o indefeso.
E o dia
a mudar seu clima
como se nada
me tivesse
acontecido.
V.
[...] Tudo o que amei,
amei
sozinho