A lembrança de um amor que nunca viveu
A lembrança de um amor que nunca existiu
Rercordo-me de ver-te, num eclipse estrelado e frio, num abraço completo e vazio,
Ver-te no despertar e no descanso, no tempo que faz do relógio um balanço,
Ver-te nas folhas e na falta delas, na estrela apagada e na flor mais bela,
Ver-te nas lástimas e na alegria,
na sua solidão e na minha companhia.
Ver o amor, somente, na face de um culpado ou de um inocente,
Na mais verdadeira mentira e na mais mentirosa verdade,
Ver o amor sem pecados, sem condenação e salvação, ver o amor com um coração sem lógica, mas repleto de razão,
Ver o amor sem tentar explicar, ver o amor em qualquer forma de partir ou amar.
Ver o amor nos dias que se foram e nos que virão, na culpa de um homem livre e na liberdade de um homem sem razão,
Ver o amor no crepúsculo e na escuridão, nas palavras não ditas e nas que se forçaram a dizer,
Ver o amor no mistério de não saber nada e na revelação de tudo saber,
Ver o amor no ato de amar e de não desejar nenhum amor de volta receber.
Indago-me como pensar tudo se em tudo nada falar, e se falar tudo o nada que irá sobrar,
Tolo é quem nada sabe e tudo acha saber, se a sabedoria só vem a porta daquele que merecer,
E tolo fico ainda mais, por saber de tanto sem nunca ter nada indagado,
Mas é aí que percebo, a resposta vem no falecer das palavras e no resplandecer do silêncio.
E pergunto-me ainda mais, se somente um olhar seu seria capaz, de responder a cada átomo do meu ser,
Se é a felicidade de te encontrar ou a tristeza de perceber, que logo fostes embora e dissestes boas vindas ao adeus,
E então, o amor que tanto clamei, que tanto em pranto busquei, olhou-me somente uma vez,
E voou para os céus, com suas asas cintilantes, mostrando-me que sempre por espírito estará perto, e não mais distante.