Como se fosses...

Escorres em mim, como se fosses rio

nas margens incontidas e alagadas do meu ser

flui na inclinação da luz, de alma liquefeita

a incendiar a voz improtelável da carne

de sensualidade imatura e imperfeita

Escorres em lava, na lavra da paixão

sem medo, no anseio e no tremor

na ousadia que pressinto no rodapé da palavra

escorres em mim, tal lâmina d’agua

sobre a terra sedenta por cultivo

na voz aguda da germinação da semente

Escorres em mim, suave e calmo

percorre-me com teus dedos

úmidos de esperança e paz

percorre-me na nudez pálida

de um bosque rumoroso

Desliza-me o corpo a ondular

em cada vaga, em cada brisa

em cada volta de mar

na ancestral sabedoria

supérflua e transparente

de nos sabermos iguais e tão diferentes.

Esgota-te em mim, amado

convicto que sobre nós

existem nuvens a ofuscar

o azul virgem do nosso mar!

Francis Faria
Enviado por Francis Faria em 07/10/2007
Reeditado em 20/01/2009
Código do texto: T684940