NÃO HÁ TERNURA

a Marlene Dietrich no Anjo Azul

Não há ternura na terra

nem nas águas dos temporais

nem há sopros de luar nos teus olhos

se os deixas morrer em silêncio

na frieza da pedra vulcânica

que soltas em subtil movimento

sempre atrás de ti como um perfume

nas noites em que sais.

Por aqui ficou sob a pele

alguma coisa a arder em suspeição

trucidando as cortinas do pensamento

amargando o amor com o seu paladar a fel

a alimentar as flores do ciúme.

Mas não me importo e rio-me.

Sempre que sais fico só e leve.

Como pode pesar um corpo

despido de voz e de coração?

É uma agonia tão crua e breve

que a afogo em suor, álcool e mel.

José António Gonçalves

(inédito.28.5.04)

JAG

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Enviado por JAG em 08/11/2005
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