A flor e o jardineiro - Saga completa (?)
(Os poemas a seguir foram escritos em anos diferentes - 1998, 2004, 2012 e 2020 - e contam parte do que foram 21 anos de relacionamento)
A FLOR QUE NASCE
(O jardineiro resiste)
Flor que nasce, para que cresças
Aguardas o teu sol aparecer
Tuas pétalas brotam no alvorecer
E não quero que desapareças.
És digna de carinho, desejo e luz
Mas não cabe a mim
Ser aquele que te conduz
Rumo ao trono do teu jardim.
Contigo guardas tuas quimeras
Protege-as bem em teu coração
E não te iludas com duas feras
Que se dizem chamar Dor e Paixão.
Serás infinitamente forte
Se creres em tua força de vida
Pois um broto quando chega a árvore crescida,
Flor que nasce – ele tem medo da sorte.
Não esperes pela chuva dourada
Que te fará florescer e reinar
Vá atrás, deixe-a sobrecarregada
Pois ela só mata a sede de quem sabe procurar.
O sol tem brilho eterno
Sê-lo!? Não posso!? Não sei!? Quero!? Gostaria!?
Desejo ser a lua de brilho terno
Pois ela ilumina a grande amizade que se principia.
Cícero – 16-09-98
A FLOR CRESCEU
(O jardineiro se rende)
Transformei em flor
O botão de outrora
Só me resta agora
Regá-la com amor.
Tornou-se linda rosa
Aquela flor que nascia
Hoje é musa de poesia
E enredo de bela prosa.
Transformou em jardim
A minha escura vida
Para a dor trouxe fim
E para a tristeza despedida.
Suas pétalas ao vento
Por um deslize da razão
E por um breve momento
Quase deixei ir sem emoção.
O mais imperdoável pecado
Este meu ato teria sido
A possibilidade de tê-la perdido
Far-me-ia justamente abandonado.
Mas hoje a flor cresceu
Deixando-me orgulhoso
E sendo o mais precioso
Presente que Deus me deu.
Cícero – 26-12-04
A FLOR CRESCIDA
(O jardineiro perdoado)
Era uma flor em botão
Uma rosa para ser mais exato
E se apossou de meu coração
Com simplicidade e com recato.
Depois, a rosa desabrochada
Tornou-se mais bela e majestosa
Fazendo-se cada vez mais amada
Pela inocência do amor desejosa.
Porém, a mão que a fez crescer
Deslumbrou-se com a vida e a feriu
Causando-lhe um grande sofrer
Como nunca antes se viu.
Entretanto, se há dor, há carinho
E cicatrizada foi a ferida
Mas na cicatriz nasceu um espinho
E assim refez-se a vida.
Crescida, a flor ficou também forte
Defendendo-se de quem lhe magoa
Traçando seus objetivos e seu norte
E não esperando, pois a vida célere voa.
Hoje, a rosa linda, firme e aberta
É mulher dona de si e apaixonante
Que como nunca antes desperta
Em mim um sentimento fascinante.
Por tudo isso que a quero em meu jardim
Para que juntos façamos um roseiral
De flores rubras, alvas, amarelas e carmim
E que a existência não signifique o final.
Cícero – 02-01-2012
A FLOR – PARTE FINAL (?)
(Outro jardineiro)
Era uma vez uma semente pura
Da qual germinou uma flor inocente
Livre de dor, desprotegida da amargura
Existencial, produto da humana mente.
Ingênua e sorridente a flor cresceu
Tornou-se bela e entregou-se a um jardineiro
Que a princípio muito amor e carinho lhe deu
Mas por descuido quase a perde por inteiro.
Ferida, se recompôs, e mais forte a flor
À mesma terra resolveu dar voto de confiança
Mas a mão que outrora lhe dera amor
Feriu-lhe de morte a frágil esperança
E a flor, em busca da felicidade, enfim
Floresce feliz e plena de si em outro jardim.
Cícero – 05-04-2020