Inacabados

Prometa que vamos começar,

que vamos, juntos, iniciar nossos desejos.

Prometa que vamos manter,

que vamos, por tudo, crescer nossas conversas.

Prometa que vamos acompanhar,

que vamos, sempre, cochilar nosso sono.

Prometa que vamos soltar,

que vamos, cada um, esperar que o agora se refaça.

Prometa que vamos respirar,

que vamos, no ritmo que der, impregnar o ar que nos rodeia.

Prometa que vamos viver,

que vamos, no imediato momento, desconstruir o tempo.

Prometa que vamos temer,

que vamos, a passos de distância, correr para o medo que nos tem.

Prometa que vamos prender,

que vamos, condenados, espreitar por um tempo a mais livres.

Prometa que vamos acordar,

que vamos, ao sol, passar as horas no nosso relógio lento.

Prometa que vamos correr,

que vamos, cansados, deitar e adormecer.

Prometa que vamos rodopiar,

que vamos, aos cafunés, emaranhar nossos fios.

Prometa que vamos dançar,

que vamos, às risadas, deixar as taças de vinho sempre em nossos lábios.

Prometa que vamos nos jogar,

que vamos, depois de transar, sussurrar as inocências do outro.

Prometa que vamos cuidar,

que vamos, do mais fraco, ascender a vida que lhe estiver indo.

Prometa que vamos à praia,

que vamos, na orla, colher as conchinhas em nossa cama.

Prometa que vamos viajar,

que vamos, depois de muito economizar, pôr em prática o idioma pouco falado.

Prometa que vamos aprender,

que vamos, todas as manhãs, reiniciar nossos estudos táteis.

Prometa que vamos ter tudo,

que vamos, no nada, sentir a infinidade de coisas que ainda existem.

Prometa que vamos intencionar,

que vamos, por presunção, eleger a nós em primeiro lugar.

Prometa que vamos ser,

que vamos, dentro de nós, ter a saudade sempre acesa.

Prometa que vamos reinventar nossos abismos para não cairmos no fim.

Prometa que seremos inacabados.