Réu Confesso

Sim, Meritíssimo Juiz

Tenho culpa, eu confesso!

Sei que foi errado o que fiz

Mas não me julgue ainda, lhe peço

Deste pobre ser desencantado

Devastado e sem nenhuma memória

De algum passado com amor guardado,

Eu suplico, escute agora a história

Se alguém rouba um pão

Porque precisa comer

Merece ele a prisão

Por tentar sobreviver?

E se alguém com este pão

Com o pecado mata sua fome

Não mereceria o perdão

Pelo crime da miséria infame?

Pois bem, Meritíssimo

Meu pecado não é diferente

Sei que é um caso raríssimo

E difícil para quem não o sente

É que no constante desemparo

Dia e noite vivendo à procura

Do sentimento mais puro e raro

Acabei por cometer tão vil loucura

Excelência, por favor, entenda

Por crer da vida não me restar nada

Numa busca do amor desesperada,

Me envolvi nesta sensível contenda

Por isso, Sr. Juiz, o perdão almejo

E, por Deus, clamo piedade!

Admito, da minha amada roubei um beijo

Mas foi do amor a mais pura necessidade.

Marise Castro
Enviado por Marise Castro em 21/04/2020
Código do texto: T6923824
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