O BEIJO

O BEIJO

O beijo Começa no ar, no aroma.Pode-se sentir seu perfume disfarçado Em um leve formigamento nos lábios Ou um mal estar e frenesi na língua. Dentes cerrados, saliva a seco, Lábios ressoando "U's" em Montanhas rosadas, morangos recém colhidos travesseiros macios de palpitações. O coração sorri. A mente nos seios de leite Olhos de sol em noite de lua. O ar se prende e teso ao pulmão Fazem os lábios se projetarem A um leve toque ao desconhecido, Desbravando lembranças de imagens impossíveis Correndo sob a chuva, esquiando rostos, alastrando hormônios Buscando territórios sagrados, culturas exóticas Caminhando sobre mar e ondas de prazer. Os dedos mordem-se, as mãos nada tocam. Leves tremores involuntários na nascente dos lábios Margeiam a boca acima fechando a represada lagoa beijo. Este chega escaldante, carregando dentes e línguas passando por cima de razoes e inseguranças Borbulhando em forma de saliva quente Procurando espaços vazios não preenchidos Buracos da existência não explorados Terreno firme, nessa misteriosa gruta. A boca, misteriosa, Esconde seus morcegos, seus medos e esqueletos de velhos desbravadores que lá tentaram a sorte. A medida que o rio tateia seus cantos A luz revela o longo caminho a trilhar ao âmago do ser. O céu é o limite, da boca também. A partir dai a queda e grande. Garganta das incertezas Vozes das inverdades O coração dos mares revoltos A mente do paraíso perdido. O beijo encerra-se, no ar, por onde começou.

Lorenzo