Uma canção de amor para Hannah.

Uma canção de amor para Hannah

Eu te amo quando tu acordas, ainda com a alma entorpecida de nossos devastadores amores noturnos, a conspirar murmurantes enredos que venham a derruir estas resistentes muralhas de nãos

Com tua voz grave e ciciante a me dizer bom dia, para um dia que mal começou, (e que já me vem assoberbar com a incômoda consciência de tua falta) da ausência do afago em meu corpo de tuas mãos

Eu te amo com o sabor de cada palavra que te digo, amor meu; a degustar cada uma delas como uma suculenta fatia de manga madura, sorvendo o seu sumo com o zelo de um monge zen-budhista em oração

Ah, meu amor! Esculpo as ricas oferendas de teu corpo com o cinzel candente de minhas palavras, palavras que despem os teus medos, abrasadas de desejo e paixão

A engendrar pontes que alimentem nós dois: a saciar tua fome de capricorniana cabrita montesa a espreitar a minha escorpiana sedução

(...)

O que seria de nós dois, amada, acaso não houvesem plavras? Palavras que me permitem algumas vezes vestir-te, e milhões de outras por-me desesperadamente a desnudarte?

Todavia, em momentos cruciais, abdico prazerosamente das sagradas palavras a que tanto me apego, e me deixo naufragar no mar de teus tempestuoso gemidos, que incendeiam o meu corpo por toda e qualquer parte

Trouxeste-me, com o teu dúbio olhar de Capitu, um novo e atordoante desejo, um sonhar acordado contigo, a surpresa percepção de que o Tigre faminto em mim, tu, sorrateiramente, outra vez despertaste

São tórridas e lascivas as nossas manhãs; Poonce de Leon buscou, e não logrou encontrar, a fonte do rejuvenescimento em que nos banhamos em nossas adolescentes e risonhas tardes

Nas quais tu és Hannah, a minha amante mais desvairada, a Florbela em que derramo a minha taça de finíssimo vinho nos túrgidos bicos de teus seios, torres gêmeas da mais pura arte.

Fui buscar no multiverso das palavras, minha amada, palavras suficientes para construir uma redoma de amor e acalanto na qual caiba apenas e tão somente nós dois.

Tarde de Terça-feira, Lua Crescente de Maio de 2020

Joáo Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 05/05/2020
Reeditado em 05/05/2020
Código do texto: T6938220
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