paixão

Apaixono-me por ti

Apaixono-me ternamente por ti

(O que me faz comum: não creio exista quem não se apaixone por ti).

Não te amo, que não te conheço

Pouco ou nada sei de ti, senão de tua beleza que repetidamente me assombra

De tua delicadeza que me acolhe quando eu me esperava banido

De teu timbre icástico e querido, que me toma onde eu me pensava só estranho

De teu toque, tão pouco, tão parco, mas que já me exalta, raro, acende, faz júbilo, enlevo

Esse toque que eu guardaria pra sempre em mim - em que eu me guardaria pra sempre.

Escolho-te, mas mando-te apenas sutis inaudíveis sinais, brandamente claros, quase mudos

Que mais poderia eu? Diante da figura deífica, magnífica, que me estremece e constrange

Diante da perturbadora condensação de tanto, do glorioso, fulgente,

Sob tão nebulosa indevassável fleuma?

Que poderia eu, ainda exaurido pela absorção tardia e plena do conteúdo da cápsula,

Tão recentemente rompida?!

Tomas-me vulnerável demais, despido, sem couraça...

Ao menos, dás-me nome ao desejo, identidade à ilusão, debelas a indigência de meu querer,

Meus sonhos já não são mais baços, impessoais, sem rosto.

Mas o que há por trás do teu encantador sorriso de sempre?

O que se esconde no teu não-sorriso que desconheço?

O que se passa nas entrelinhas profundas de tua desintrincada prodigiosa história?

(Uma única vez, por acidente, teu olhar parou no meu, segundos, e teu sorriso não estava lá;

Nesse átimo, vi teus olhos claros pra dentro, entrevi tua alma, e fugiu).

Aceitas-me os convites, com presteza, naturalmente

Mas vens pouco, apenas sempre sorridente e breve.

Também rejeitas-me os convites: negas-me elegante os débeis apelos (era o que eu faria sempre...).

Tranquilo jamais ficarei sem ti hoje. Tua ausência me treme. Tua presença também.

E jamais ficarei contigo. Não é possível que tanto me possa compor o plano

Neste ponto quarentênico do trajeto de minh'alma, há tantos séculos confinada.