Andarilho

não sou ninguém

nada tenho

andarilho

nos teus átrios

aos teus serviços

na ponta dos meus dedos

teus flancos pardos

entre o enleio laço

do meu abraço-servo

me acho

nos meus olhos

teus olhos de mil estrelas

faíscas na minha noite

a relva

a chuva

sopras no meu rosto

teu hálito de eternidade

rasgo meu tempo

lanço mão de todos compêndios

só para fazer reverberar no meu peito

todo meu medo

e alegria incrédula

prostrados

ante teus vitrais sacros

úmidos

das manhãs de domingos

chove

em minha boca de deserto

oasis sagrado

entre todas as minhas miragens

tu, Lua Alta,

meu altar sagrado,

sou teu servo

teu bardo

e as rimas vadias que teço

teu nome sacro

ecoa

meu desejo lacaio

de adorar-te.

lento

e morno

na vastidão da tua boca

ressoa

essa risada úmida

onde quero morrer

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Publicado na Antologia do Mulherio das Letras Portugal

Lisboa

Editora In-Finita

maio 2020

ISBN 978-989-54744-8-6