Escuta-me

Se por vezes alguma medra a fúria,
chama-me, estalarei o chicote por defesa,
não deixarei que fiques na incúria,
alheio a pedra imposta da mão covarde.
Se acaso os descaminhos cruzarem teu atalho,
orienta-te comigo, tua bússola, pronta, alerta,
para que não te percas no princípio do mundo.
Mas, se te perderes, o cansaço sobrevir,
saibas que terás o cântaro do meu peito,
o afago da mecha cristalina suavizando,
alentando-te para que prossigas.
Quando palavras rudes te tocarem,
ouça-as, fitando o céu dos meus olhos
ainda retido na tua mente, bem sei.
E na serenidade de toda poesia que te fiz,
cada detalhe te fará alheia as palavras vãs.
Quando tropeçares, faças do tombo uma reverência
respeitosa e singular ao Criador,
que o ânimo te erguerá portentosa,
dona e capaz, participante e líder,
não das feministas, sim da mulher,
feminina, doce, porém forte, vigorosa
na plenitude dos direitos
que não foram roubados,
apenas não foram descobertos.
E quando tu alcançares os cumes,
talvez uma ponta de ciúmes
far-se-á em nuvens sobre mim,
entoada por chuvas de palmas,
flores também no espalmar de mãos,
que colherá uma transparente homenagem,
que os olhos hão de deixar aflorar.
E a boca calada te sorrirá,
sem que saibas que tanto ainda há,
agora tudo tão pequeno,
no contraste com teu imenso mundo.