Escritos na amplidão

Agita-se o frio ferro na mão tremida.
Rasga o silêncio, o grito de dor
da boca tensa, toda comprimida,
negando piedade, palavra de favor.
Soluça a nênia, quase sem barulho,
tocando os clarins, as flautas da noite
acompanham a corte agora de despedida.
Pedaço de tempo,
quarto de hora,
amansa o vento,
que o ferro que fere, frio, tremido,
rasga o peito de amor despido,
gravando para sempre uma saudade,
infalível sequela de ilusão morta.
E por onde a mão passar,
haverá a expectativa dos guerreiros,
dos vencidos aos vencedores.
Aos feridos a palavra de consolação,
aos vitoriosos todos os louvores.
Minha mão cá se consola
tateando nas páginas,
buscando lacuna,
preenchendo a noite sem estrela,
jogando pingos de luz no céu
em poemas que buscam seu endereço,
para ficarem vencidos aos seus pés,
rasgados por suas mãos,
mas, após lidos, amassados e sufocados
no proibitivo anseio de amor,
que sabemos, é vivo,
tão forte que o mundo começou
girando em nossa direção
e pode acabar em nossos braços,
se não acabarmos antes com este vazio.