Retrato

Um sorriso no céu é brilhante,
reluz como uma estrela,
como o seu, ao meu amante,
amado na noite que se deita,
pecaminoso na boca que deleita,
fugaz no beijo comprimido.
É livre o abraço no espaço,
no vazio da ampla imensidão,
no tronco robusto do seu seio
quando nu, totalmente alheio
a sede que brota em minhas mãos,
no calor que solta dos lábios,
na tensão que chicoteia a alma.
Fica ainda mais eletrizante
quando a luz se faz distante
cortando a silhueta; o olhar procura
penetrar no pudor quase descoberto,
no teto azul de um grande sonho.
Sonho de sorrir no céu
sem retirar o véu,
nem deflorar o silêncio de vinte anos,
entregue ao ruído que o amor faz.
É delicioso fluir sem procura, a vinda
exposta nas vitrinas de vidro,
longe do toque dos dedos
que derramam saudade por onde passam.
É furtivo ser azul e sorrir no céu
enquanto a lágrima rompe na chuva,
secando as feridas da paixão.
Um sorriso no céu brilhante,
na lágrima hilariante.
Fluímos do amor juntos,
cada tato pelo tato no encontro de nossas peles,
no abraço de nossas mãos.