Amor terreno
Não há em meu amor
A pureza e a fluidez
De um manancial intocado pelo homem;
Com ele, carrego as impurezas e o peso
Oriundos deste mundo caótico.
Não transpareço em minhas palavras
A translucidez e a sutileza
Atribuídas a um espírito de luz
Pois, por mais doces ou meigas
Que sejam, ainda estarão impregnadas,
À sordidez e à hipocrisia
Enraizadas na natureza humana.
O brilho dos meus olhos
Confunde-se a um reflexo vazio
Perdido na redundante cintilância
Das metrópoles...
E, ainda assim, tenho um lugar
À lareira que se faz teu colo
E todo o aconchego que pode me dar
O teu vasto coração
E, mesmo na assimetria
De meus sentimentos,
E, mesmo na desarmonia
De meus pensamentos,
Tens o poder de juntar meus cacos
Esparramados pela névoa densa
De minhas incertezas
E me trazes à lucidez do teu olhar
À calmaria de teu sorriso
E à segurança de tua presença ímpar.