ALAMBAMENTO*

(ao som de marimba e coro)

Vê-se mariposas a voejar em giro

Pela graça de atração, decerto —

E em simultâneo com o chamar das garças

Ouve-se acácias regozijando nos cimos

Ao ciciar da brisa em deleite

É tempo aprazado e bem favorável

Para celebrar nosso conúbio

Ao perto dos ascendentes

Consanguíneos e convidados afins

Que sobremaneira nos são queridos

Oh Kajinga, minha nubente singular

Tão bela e tão singela qual girassol

Que mago sol desperta em mim

Para ti, amor, somente para ti

Trago meus presentes humildes

— Nozes de cola e gengibre

Uma muda de panos à lusamba

E colarinhos de búzios do mar

E para a minha futura sogra

Eis uma cabaça de ukundu fresco—

Uma porção de tabaco

E também bocados de gengibre

Acrescidos de um novo cachimbo

Feito de utumwa

Porém mais que alambamento

É o meu coração rendido ao teu

No assentamento deste consórcio

Por sob a viçosa muhanda

E perante a eminente Kazola —

Deusa de todos os amores

Neste comenos

Tomara que acedes ao meu pedimento

Prenhe de paixão agora a tremeluzir

Com tanta devoção e tanta afeição

Que nem lua morna de Setembro feraz —

Mês que viu-te nascer logo ali

Junto às raras frutas de mufongo.

*Também 'Alembamento' = dote (de origem Kimbundu, Kulemba).

Lusamba = árvore de que se extrai fibras para o fabrico de panos.

Utumwa = barro especial usado para o fabrico de cerâmicas.

Mufongo = planta de frutas semelhante a ameixa.

Escrito em Kimbundu. Tradução portuguesa do Autor.