Amor Proibido

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Bem cedo ela, ainda adolescente, nos conhecemos e nos afinizamos duma vez; apesar da diferença de idade e do alto grau de parentesco, que temos.

O mundo inteiro se opôs à nossa união e só nós dois achamos certo não dar ouvidos às implicâncias e, prosseguimos no propósito de nos amarmos...

Em grande risco, a roubei (literalmente, em carne e osso), nesse tempo roubar moça, mesmo em comum acordo, com a dita, constituía-se num ilícito criminal.

Não pensei nas consequências futuras do meu ato... o amor falou mais alto.

Foste comigo pela vida, em bom gosto; sem as devidas bênçãos paternas, de cidade em cidade... Sem guarida, sem um teto, sem um trabalho definido.

Pelos padrões pre-estabelecidos pela sociedade dos homens, fomos excluídos da razão e do direito de ser feliz ao nosso modo...

Conosco havia amor para dar e receber em mútuo apoio o tempo todo; e nessa recíproca verdadeira, nossos dias tiveram reais sentidos de ser, e como tiveram...

O medo, a tirania nunca fezera morada em nossa relação.

Ao saber como tudo se deu entre eu e ela, as pessoas nos olhavam diferente; nos julgavam, mesmo a ver nossa terna união indo bem.

Saimos pela tangente aos desejos de muitos, em nossa atitude. O que mais pesou na decisão fora o 'tudo de bom' que planejamos para as nossas vidas. Com as formalidades de um matrimônio, não contamos.

Investimos pesado nesse sentimento bom de nos amar, embora no tribunal do jure popular, fôssemos condenados a vivermos em continentes separados, sem a relação homem/mulher (pela parentalidade).

Numa quebra de paradigma não demos ouvidos as vozes contrárias à nossa felicidade e seguimos em frente.

Nessa jornada de vida que fizemos com muita luta, a sorte sorriu para nós...

Recebi os louros da Vitória, pela bondosa e guerreira mulher que foste. Mesmo em lutas, sorria; com sua fé e crença, alimentou a esperança, o sonho, a felicidade que almejamos (em boa convivência).

Agora, muito mais eu sei, que o amor supera tudo, 'através do seu poder'. Posso afirmar que não fora em vão a nossa aventura de amar.

Na nossa relação, o carinho, o apego, um ao outro até as brigas… Foram o tempero dessa união tão ignorada.

Quando eu preso, fostes presa comigo também e entre fuzis fizeram o nosso casamento (em constrangimentos). Não quisera o destino que fosse de outro jeito, a nossa história amorosa.

Sem cerimoniais, sem demais formalidades sociais, carregamos um fardo pesado…

Só sei dizer que a lei do amor em nós, teve maior força e vencemos. Em formação duma linda família, e no enfrentamento dos grandes desafios da vida.

A punição discriminatória que sofremos, ao longo do tempo, não pôde nos desunir, desobrigar da alegria do estar juntos…

Se no meu proceder, houve alguma falta grave, na matéria amorosa, rogo aqui o meu perdão!

Depois que a perdi, em processo natural, ainda numa boa idade, vivemos separados por quem nos uniu um dia. Ela, na eternidade com Deus e, eu ainda a palmilhar a terra...

Sigo solitário, sem a companhia de quem mais amei; sem sua presença, mas com as Jóias da Coroa. — Os filhos, netos, bisnetos... ainda a me sentir, muito feliz com essa riqueza que construímos.

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.