Se traz a borda d'alma fados postos

Houvera tempo que eu melhor me compreendesse.

Foram tempos idos, que aquele Eu já falecido

Quem sabe, aqui, melhor lhe escrevesse.

Tu vieste a mim com ânimo supremo,

Como que nuvem graciosa.

Portando, em si, poças d’águas destiladas

Vagamente, em minha estrada - que é seca,

Quebradiça e malditosa.

E que, quando muito está nodosa,

Lembra bem aos bueiros lameados

Que quando, ingênuo, eu subsistia

Recordo, com outros tolos ter brincado.

Mas tornemos ao que o amor tem por beleza,

Que, embora se entenda bela a natureza,

Não é sempre que aquele desabrocha.

É coisa que pulsa, que dói, e não se tange.

É coisa que aquieta, compraz e amaldiçoa.

Há cousa insana como esta?

Ver-se pleno numa pessoa?

É tão feroz e solitário o emprego dos esforços

Em propor que seja vario, aquilo que é de um.

E, num altruísmo alarde dos afetos,

- Em que se envolve o enamorado -

Bradar aos ventos, sem recato,

Convencidamente que Eu sou Tu!

Esses moços, bem lhes disse Lupicínio

Deixam o céu, porque em fascínio,

Creem o inferno luminoso mais

Que o paraíso.

Nós, apartados, viemos.

E não restaram lazeres tantos.

Que transmutar o amor em cantos

Thiago Inácio
Enviado por Thiago Inácio em 27/10/2020
Código do texto: T7097352
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