Amei Demais

AMAR DEMAIS...

Amei demais a terra em que nasci, não me importando se ela estivesse fraca pelas lutas que travou; não me importando pela Ditadura ou pela revolução, continuei amando...

Amei até quando aqui eu não existia: na época do Império ou da "Independência ou Morte".

Amei as pequenas cidades por onde passei ou morei, cada uma com suas graças e dificuldades... todas possíveis de ser contornadas e vivenciadas.

Amei minha infância e meus amigos que, de tempo em tempo, se modificavam, trocavam suas vestes e seus sotaques me fazendo querer ser exatamente como eles.

Falei "manhinha" para agradá-los e "tchê" para me sentir igual e, assim, amei todos eles, suas crenças, suas danças e seus jeitos de encarar a terra.

Amei as árvores repletas de frutos exóticos lá do Nordeste e amei também as gauchadas alegres do nosso Rio Grande do Sul. Amei as praias e as planícies, os doces de cada região, a charqueada e o sururu.

Amei o povo tão sublime e tantas vezes ingênuos que conheci nestas caminhadas...

Um povo que te abre as portas das suas casas e te escancara as janelas de suas almas como se amigos de longas datas fôssemos.

Amei pela vida afora de tantas formas, de tantas maneiras, de tantos significados.

Amor de namorado... que nos faz ficar na cama num fantástico dia de sol de verão sem vontade de mais nada... que nos faz sair e caminhar na chuva e achar a melhor coisa do mundo...

Amei virar a noite só para fazer a vontade de um amigo e de ir a lugares chatos pela mesma razão.

Amei dançar desajeitadamente, mergulhar nas profundezas do mar sem fim para conhecer novas formas de vida...

Amei jogar volei mesmo odiando, e escalar montanhas só por desafio...

Amei esquiar mesmo com as lágrimas escorrendo pelo rosto e patinar no gelo quase morrendo de tanto rir.

Amei fazer ioga quando o corpo pedia para parar mas a mente teimava em continuar.

Amei ler centenas de livros que nem os títulos ou seus autores eu me lembro, mas que me fizeram rir e chorar e querer ser um dos seus personagens...

Amei os filmes épicos, as comédias e os grandes clássicos, amei todos os tipos de músicas que mexiam com a minha imaginação ou que somente me faziam cantarolar.

Amei virar psicóloga e conselheira e chorar junto sentindo a mesma dor do outro.

Amei me sentir fraca e pedir colo quando a dor me vencia e amei mais ainda dar e receber o carinho na hora certa...

Amei dar e receber o carinho a qualquer hora só pelo prazer de receber.

Amei me entregar completamente sem nem saber se o outro merecia, só pela satisfação egoísta e única.

Amei doar meu coração, minha alma e minha vida e sentir a mesma doação do outro lado.

Amei o sentimento do amor incondicional pelos filhos que nos completam de forma intrigante, com os choques das gerações que nos levam a quebrar regras rever tabus e preconceitos...

E aprender muito com eles!

Amei conviver com os jovens, amigos dos filhos, que se tornavam filhos também; com seus segredos de final de noite e personalidades próprias e peculiares.

Amei meu trabalho e odiei também, mas tudo se odeia um pouquinho neste mundo...

É saudável.

Amei todos os animais que tive e por todos chorei nas despedidas, dizendo pra mim mesma: nunca mais terei outro, sabendo, no entanto, que era uma grande mentira.

Amei minha família quando perfeita ou defeituosa...não importando seu momento e suas desavenças...

Amei meus amores pecaminosos e meus amores platônicos...

Todos caprichosamente, fantásticos e insubstituíveis.

Amei a mim mesma quando fortaleza e quando em ruínas.

Amei a vida como um todo, com seus obstáculos, suas levezas e tanto na alegria como também na tristeza...

E por amar demais assim amei a Deus sobre todas estas coisa, Pois através Dele tudo é possível.

E por amar demais pretendo continuar por este caminho, descobrindo que só através do amor a gente vive de verdade!!!

(2012 - Ana Lacerda)