...sorvo prados morenos dos teus olhos

Na mansidão da desordem

eclode a primavera de um tempo de medusas vivas,

a descerrar-se do beiral de roseiras e d’urtigas.

Ninfa primitiva dos bosques,

mastigo a beberagem da taça de cicuta

em goles dúcteis,

pequenos,

serenos.

Em deleite, antecipando a viagem,

sorvo prados morenos dos teus olhos, meu amado.

No talhe angulado e bilabiado da boca,

bebo-te a voz, quente, rouca, que me fala a alma,

que sacode negras nuvens da noite que agora morre.

(E dela, a mensagem primitiva, descodificada,

no amanhecer livre d’aurora.)

Liberto a fragrância de póstumas lágrimas

na aragem libidinosa que se escorre, derivada,

sendo seiva, saliva, de que se alimenta a planta,

do caule à folha, em cadência preliminar e recôndita.

Silencio o mais fino nevoeiro em gelosias de lume,

solto os seios, os limites, os anseios,

os desejos mais frementes.

Despenho-me ninfa ou fada, no teu colo, amado,

de melodia carmina,

e sou centelha Pré-câmbrica a eclodir-se vermelha

no primado duma Nova Era.

Amo-te para além do véu do vento,

perpasso a areia na procura da raiz deste bem querer imenso

e, por fim, sou sobre ela, serenada em ti,

a prata exultada em dia de lua cheia.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 27/10/2007
Código do texto: T712624
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