Um dia acordarei.

Um dia acordarei.

Porém tu, não.

Tocarei tua face, ainda quente,

com minhas mãos geladas de aflição

e estarei indefeso de repente.

Um dia acordarás.

Porém eu, não.

Tocarás no meu rosto docemente

para uma apavorante conclusão

e estarás indefesa de repente.

Um dia acordarão.

Porém nós, não.

Dirão de nosso amor sem precedente

que teve tão perfeita fruição

e nos enterrarão como um somente.

Um dia acordaremos.

Eles, não.

Nas nuvens dançaremos amplamente,

que a morte não passou de uma ilusão,

que a vida não passou de um sol poente...

Mas hoje não alcança a depressão:

acordei do teu lado meigamente

e peguei, sem temer, na tua mão.

Como é pleno estar vivo, estar contente!...

07/12/2020

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 07/12/2020
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