Poema – Paganini

Poema – Paganini

‘’ Os suicidas inventaram a música

Pois não conseguiam sobreviver todos os dias

Com os martírios de suas almas’’

No passado, muito antes da criação das estrelas

Um Deus solitário cujo o nome jamais deveria ser mencionado

Vagou pelo abismo do nada a escrever suas canções

A sua voz fria como os mais gélidos corações

Vagava no vazio e somente os seus ouvidos surdos

Poderiam escutá-las

Suas canções eram frias e secas

Sórdidas como o assassinato de crianças em orfanatos

Sujas como a peste negra

E poéticas, como a luz das estrelas...

O vazio e o nada eram os seus melhores amigos

Seus pais e suas paixões

Ele dizia para si mesmo em muitas das suas canções

Que algum dia gostaria de cantar para multidões

Enquanto voa livremente pelo céu noturno

O Vazio e a escuridão

Escutando os seus murmúrios

Criou o céu e a terra

E tudo que hoje chamamos

Vulgarmente de Universo

Acostumado com a solidão

E o vazio do nada

Aquele Deus ficou espantado com a vida

E como aquelas pequenas criaturas eram cruéis umas com as outras

Embora espantado

Ele estava feliz

Pois não estava mais sozinho

E agora poderia ressoar suas frias canções

Para que outros assim como ele, atormentados pela solidão

Pudessem escutá-lo

Amaldiçoado pela solidão

Ele dividiu a sua Alma em milhões de pássaros

A se espalhar pelo universo;

Diziam os sofistas e os poetas gregos

Que segundo as lendas antigas

Estes pássaros que vemos por ai

Vagando sem rumo ressoando suas canções

São os espíritos daquele solitário Deus

Vagando pelo mundo

Gritando em canções Poéticas

Os suicidas são os únicos capazes

De compreender os pássaros e admirar as suas dores...

Pensem na solidão

como o bater das asas de um pássaro

Ou a canção de anjos caídos

sobre o túmulo dos homens

Esse sentimento de paz e desespero

que vive no coração de cada um de nós

Seria a solidão uma alegoria para a morte?

Um beijo sincero ao anoitecer?

Intrínseca solidão que vive

No coração de cada um de nós

amo-te como amo a noite

Amo-te como amo a morte

que transformará o meu túmulo em um altar para o nada

- Gerson De Rodrigues

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 08/12/2020
Código do texto: T7130699
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