Antologia I: O Amor e a Poesia

 

 

      Fuga    (01)

Fugi...
Fugi da vida vivida numa redoma escura,
fugi de mim mesmo e da minha amargura,
da rotina triste, medíocre, comezinha...
dos valores prescritos pela sociedade mesquinha.

Fugi...
Dos louvores estabelecidos pelos preceitos soberanos,
da certeza que me levou à mesmice tantos anos,
dos desejos ineptos que perduram ao vento,
da tintura escura nas flores envernizadas pelo tempo.

Hoje...
Sou o delírio da noite enluarada,
a paixão cega pelas cores da madrugada,
o sabor dos beijos lascivos da mulher amada,
a loucura intrépida da pessoa errada.

Hoje...
Sou o barco à deriva nos portos distantes,
o segredo mais seguro dos marinheiros errantes,
o calor da paixão intensa... mais gritante,
sou enredo, sina... perversão de amante.

 

        Somos Apenas Um...    (02)

No olhar cintilante da estrela mais linda,
encontrei teu sorriso brilhante,
fugi como o náufrago, em mar revolto...

A paixão me cegou, por instantes...
no peito, a dor do segredo mais louco...
insensatos, os desejos do amante.

Por que negar? Pra que fugir?
Ainda que separados... somos apenas um!


                    Amor Infinito    (03)  

                      Ainda que o mundo diga não,
                      não deixarei de te amar.
                      Ainda que o céu desapareça,
                      não deixarei de te amar.
                      Ainda que o sol se apague,
                      não deixarei de te amar.
                      Ainda que o mar se esconda,
                      não deixarei de te amar.
                      Ainda qu'eu me afaste de ti,
                      não deixarei de te amar.
                      Ainda que não mais exista,
                      não deixarei de te amar.

            A vida é breve; o amor, infinito!

 

Paixão de Trovador    (04)
 

Paixão sem exagero,
sem o sopro do amor,
pode até ter cheiro,
mas, jamais terá sabor.

A paixão pra valer,
faz a alma  cantar,
corpo inteiro tremer,
e o coração palpitar.



               Pacto de Amor    (05) 
 

                               Te proponho um pacto,
                        que a finitude...
                        nunca nos separe,
                        mesmo que o sol se acabe,
                        e que a noite seja tarde,
                        o amor continua.

                        E que o tempo...
                        seja apenas um detalhe,
                        a saudade nunca atrapalhe,
                        eternamente o amor se espalhe,
                        pois... na estrada da vida,
                        serás sempre minha rua. 
                 

                         Andanças    (06)

                       Em minhas andanças tortuosas,
                  és minha derradeira parada,
                  aquela definitiva,
                  a que me faz amante intenso e sensível,
                  capaz de sugar, por inteiro...
                  até os teus pensamentos.
 
                  E, nessas estradas caminheiras,
                  percorri o mundo, desci ladeiras...
                  enfrentei perigos, pulei fogueiras...
                  varei telhados nas cumeeiras,
                  corri das moças namoradeiras,
                  deixei chorando as carpideiras,
                  te procurando a vida inteira.


    O amor, o trigo e a estrela cadente    (07)

        Nós somos tão iguais,
        quanto somos diferentes,
        às vezes... um pouco mais,
        mas, nem sempre... nem sempre.

        E... somos pães do mesmo trigo,
        que se moldaram noutras fornadas,
        juntos se fazem abrigo,
        separados, não dizem nada.

        Eu sou o fogo do sol ardente,
        tu és a luz da lua crescente,
        o amor nos atrai tão fugazmente,
        no brilho-olhar da estrela cadente.

        Assim... fugir não é o dilema,
        mágoa se torna problema,
        a vida é finita e tão pequena,
        amar, amar... é o que vale a pena.


               Nosso amor de ontem     (08) 

                   Não choro mais,
                   embora, já o tenha feito.
                   Não corro atrás,
                   ainda, que tenha ido tantas vezes.
                   Não espero nada,
                    mesmo que houvesse antes.

                   Assim, se vier para mim...
                   caminharemos juntos,
                   mais uma vez.
                   E, se não for possível...
                   sigo em frente,
                   como sempre segui.

                   E, que as estrelas piscando,
                   lá no firmamento,
                   privilegiadas testemunhas,
                   brilhem intensamente...
                   sejam luzes da nossa decisão,
                   nesse momento.

       
     As Escolhas que Fiz    (09)

         Olhei, por instantes, a beleza da lua,
         meio que escondida...
         por um resto de nuvens opacas.
         Vi algumas poucas estrelas,
         piscando distantes,
         num céu meio turvo e melancólico...
         e fiquei a recordar uma parte da minha vida,
         um tanto adormecida no tempo,
         pelas escolhas que fiz.

         Sim, quantas saudades tenho do qu'eu vivi,
         dos amigos que nunca mais vi,
         das ousadias que antes me permiti,
         dos sonhos e ilusões que um dia senti,
         dos desejos escorregadios que deixei por aí,
         dos amores e paixões qu'eu tanto fugi.
         Ah, são pedaços de mim que no tempo perdi!

 

 

        Descaminhos      (10)

 

Meus versos tolos, inconsistentes...

tais quais arroubos de adolescente,

permeiam a estrada da minha mente,

e me entrego todo, eternamente.

 

Eu sou um inteiro pedaço de ti...

aqui... bem mais longe ou tão logo ali,

não tenho nenhum caminho a seguir,

se permaneces distante assim.

 

E nessa fuga traiçoeira, mordaz...

somos dois desencontrados animais,

quando procuro... te enxergo por trás,

a dor da saudade é doída demais.

 

O Fim    (10) 

 

O fim dum grande amor é triste...
muitas vezes acontece,
irreversivelmente.
Inicialmente discretos,
no decorrer do tempo,
os sinais ficam evidentes,
tornam-se mais insistentes.
Intensos!

Os olhares apaixonados...
não seguem o mesmo caminho.
O coração ferido sangra...
sangra em demasia.
Ainda bate, fracamente...
bate devagarinho...
quase parando,
como luz de vela ao vento!

Os projetos de vida a dois,
ficaram distantes,
dia após dia...
mais distantes,
até serem inviáveis,
inalcançáveis...
inatingíveis...
vazios!

E o que houve?
Onde está aquele amor infinito?
E as juras  secretas?
Incompreensão?
Desavença?
Malquerença?
Desgate?
Vale a pena dicutir isso?

Agora, já não importa...
os sonhos se vão para outra porta,
n'outra direção!
Chora coração!
Chora de emoção!
Mas... vai embora,
chegou a hora,
é o fim de nossa história!

 

 

                         Post Scriptum
 

Sem nenhum critério específico, escolhi 32 (trinta e dois) poemas publicados no RL, que têm como cerne a química "entre o homem e a mulher". Dividi-os em 03 (três) grupos... o primeiro (este aqui), numa homengem ao carioquinha Marcus Vinícius de Moraes... apelidado carinhosamente por Tom Jobim de "poetinha".

Vinícius foi diplomata, jornalista, dramaturgo, cantor e compositor. Tornou-se muito conhecido e admirado como poeta lírico intenso, notabilizando-se pelos sonetos em exaltação ao amor e à beleza da mulher.

Boêmio típico de sua geração, além de fumante inveterado e apreciador de "scott", apaixonou-se por dezenas de lindas mulheres. Conquistador incorrigível, casou-se em 09 (nove)  ocasiões.

Deixou um legado artístico-literário de raríssima beleza e extraordinária riqueza... passeando com incrível competência pela literatura, teatro, cinema e música.  Mas, inequivocamente, tinha predileção  especial pela poesia "derramada", em que a mulher e a paixão estavam presentes em cada verso. 
 

Antônio NT
Enviado por Antônio NT em 18/01/2021
Reeditado em 01/09/2023
Código do texto: T7162316
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