Lembranças de minha cama de sangue

onde eu durmo

dorme comigo o medo de ser um vulto sozinho

um vulto que me aquece com sua pernas eróticas

com sua lambidas frias no meu pescoço

minha cama tem sangue como a virgem em dia de núpcias

como a vela que se apaga com o choro

como a merda que vejo sair das janelas

minha cama é meu sentido

é meu vernáculo

é minha dor contemplada pela paredes nuas do meu ardor

lembro de tanta coisa...

tanta dor e morte...

tanta cor e fingimento...

minha cama tem sangue

pois eu o fabriquei

eu o tomei em sucessões de tombos e flagelos

e o que sobrou?

Sobrou minha memória que se recusa voltar para o fim

de olhar para meu dia

e profetizar que só tenho mais algumas horas

pra depois,

só depois,

eu ter você sorrindo ausente dentro do meu espírito

e manchando minha cama de sangue

sangue de minha morte lenta e febril

abençoada pela sua frieza e verdade...

Como se eu estivesse em um lago

durmo na minha cama

sangue nas minhas narinas

corpo que se despe de vida

sou mais que um sangue na gotícula de um corpo.

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 15/11/2005
Reeditado em 15/11/2005
Código do texto: T71752